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Foto do escritorLara Norgaard

Apresentando: Operação Jacarta

Atualizado: 5 de abr. de 2022

Tradução/translation: Victor Traldi


At the end of the Portuguese text you can read the English version!

 

Todas as quintas-feiras, centenas de mulheres se reúnem em uma praça no centro de Buenos Aires em frente à Casa Rosada, onde fica a sede de presidência da Argentina. São mães, mães famosas: as Madres de la Plaza de Mayo – ou Mães da Plaza de Mayo. Elas seguram fotos de seus filhos desaparecidos e vestem lenços brancos carregando os nomes de seus entes queridos.


Madres de Plaza de Mayo. Reprodução.

A quase 16 mil quilômetros de Buenos Aires, um grupo diferente se reúne em frente ao Istana Merdeka, palácio presidencial da Indonésia. Também é uma tarde de quinta-feira. Muitas pessoas desse grupo são mães, mas nem todas. Ninguém usa um lenço branco; pelo contrário, todos usam roupas pretas e a maioria carrega guarda-chuvas pretos, mesmo quando não está chovendo. Mas os guarda-chuvas são adornados com dizeres que também pedem verdade e justiça para os desaparecidos. Alguns participantes carregam fotografias ou desenhos estampados com imagens de seus entes queridos. Eles se reúnem todas as semanas, sem falta.


Esta coluna será um espaço para investigar paralelos transnacionais intrigantes e esquecidos das memórias das ditaduras, como o descrito acima. Testemunhei as Mães da Plaza de Mayo pela primeira vez em uma tarde de quinta-feira ao lado da Casa Rosada, quando estudei em Buenos Aires em 2016 – época em que comecei a desenvolver uma pesquisa comparativa sobre a memória coletiva das ditaduras militares na Argentina (1976-1983) e no Brasil (1964-1985). Três anos depois, enquanto trabalhava como tradutora literária e crítica cultural em Jacarta, descobri o segundo movimento. Menos conhecido mundialmente, o Aksi Kamisan – ou Ação de Quinta-Feira – é organizado em torno da justiça para crimes cometidos durante a ditadura militar indonésia (1965-1998). Em uma tarde de quinta-feira particularmente abafada, peguei o ônibus para Monas, a enorme praça central de Jacarta, e participei da manifestação. As semelhanças com o movimento argentino eram impressionantes. Assim, comecei a investigar se os dois movimentos estão conectados e, em caso afirmativo, por que e como.


Uma das iniciativas por verdade e justiça de maior sucesso e visibilidade internacional, as Mães da Plaza de Mayo começaram a atuar em 1977, enquanto a ditadura civil-militar argentina estava no poder. Essas mulheres marchavam exigindo informações sobre o paradeiro de seus filhos e, após o fim da ditadura, continuaram marchando para pressionar o Estado a realizar julgamentos contra os responsáveis pela violência do Estado ocorrida entre 1976 e 1983. As mães continuam se reunindo semanalmente até os dias de hoje na Plaza de Mayo. Vestindo seus icônicos lenços brancos, exigem justiça pelos crimes da época da ditadura e se organizam em torno de causas contemporâneas de Direitos Humanos.


Já o Aksi Kamisan – fundado em 2007 por mães indonésias cujos filhos foram desaparecidos pela ditadura de Suharto e por seus aliados da sociedade civil – exige responsabilização pela violência estatal perpetrada na Indonésia, no passado e no presente. Como os regimes civil-militares da Argentina, Brasil, Chile, Uruguai e Paraguai, a ditadura da “Nova Ordem” do general Suharto era anticomunista. Com o apoio dos Estados Unidos, perseguia qualquer pessoa considerada esquerdista. A estratégia dos militares para a eliminação política foram os desaparecimentos forçados e os assassinatos extrajudiciais em massa, deixando cerca de um milhão de mortos entre 1965 e 1966. No caso da Indonésia, nenhum dos membros do governo militar foi julgado por seus crimes.


Ora, quão intimamente ligados estavam esses regimes autoritários anticomunistas nas décadas de 1960 e 1970? Uma investigação recente do jornalista norte-americano Vincent Bevins avança nessa questão em uma escala global. Em seu livro de 2020, The Jakarta Method, Bevins aponta como os regimes militares de extrema-direita da época – distantes, mas com objetivos econômicos favoráveis aos Estados Unidos – não eram apenas ideologicamente semelhantes, mas também estavam em contato direto uns com os outros. Por exemplo: no início da década de 1960, oficiais militares das Américas e da Indonésia se encontraram em Fort Leavenworth, no estado do Kansas, para participar de programas de treinamento militar com tendência ideológica anticomunista.


Depois que o general Suharto deu o golpe de Estado e levou a cabo assassinatos em massa de militantes de esquerda em 1965, a palavra “Jacarta” se tornou um chavão para um politicídio bem-sucedido. No Chile, no início dos anos 1970 – antes de Augusto Pinochet tomar o poder de Salvador Allende, presidente democraticamente eleito –, as frases Yakarta viene e Yakarta se acerca (Jacarta está chegando) foram pichadas em muros de Santiago ou enviadas na forma de cartões postais anônimos como ameaça a proeminentes intelectuais de esquerda.


No Brasil, a palavra “Jacarta” também teve conotações violentas. De acordo com as descobertas de Bevins, a ditadura civil-militar estabeleceu a Operação Jacarta: um programa de meados da década de 1970, apoiado pela linha dura do regime, como o general Ednardo D’Ávila Mello. A operação implicava no programa de assassinato em massa mais extenso que o Brasil já havia visto. A visão completa da Operação Jacarta nunca foi realizada, mas vários assassinatos foram cometidos em nome da capital indonésia, incluindo o do jornalista Vladimir Herzog.


Com essas relações surpreendentemente próximas entre regimes militares, pode-se imaginar como um movimento pela verdade e justiça na Indonésia poderia mais do que coincidentemente conectar-se às estratégias latino-americanas de combate à impunidade. Para pensar nessa possibilidade, conversei com Maria Catarina Sumarsih, uma das mães que fundou a Ação de Quinta-feira na Indonésia.


Sentamos em sua casa em uma rua calma na zona oeste de Jacarta. Uma brisa úmida soprava pela porta aberta. Ela me ofereceu chá quente e kue kastengel enquanto me contava a história do Aksi Kamisan, que também é uma história de sua própria perda. O filho de Sumarsih, Bernardinus Realino Norma Irmawan – também conhecido como Wawan – era membro do movimento estudantil indonésio contra Suharto. Wawan desapareceu em novembro de 1998. Sumarsih passou os anos seguintes ao desaparecimento de seu filho tentando construir movimentos com outras mães. Em meados dos anos 2000, ela traçou estratégias com líderes da organização KontraS, a Comissão para os Desaparecidos e Vítimas de Violência de Estado, que conheciam movimentos internacionais com objetivos semelhantes. Organizadores da KontraS – como Haris Azhar – haviam estudado movimentos políticos no exterior, e as Mães da Plaza de Mayo se tornaram uma referência chave para o que mais tarde se tornaria o Aksi Kamisan.


O Aksi Kamisan não é uma mera cópia do movimento argentino. Em vez disso, é uma tradução. Na Argentina, as mães se concentram principalmente em uma forma de violência do Estado: o desaparecimento; por sua vez, os crimes levantados pelo Aksi Kamisan são mais variados por conta da ampla gama de crimes cometidos pelo Estado indonésio entre 1965 e 1998 e nos dias atuais. As mães em Buenos Aires marcham, enquanto em Jacarta elas ficam completamente paradas e em silêncio. Na Argentina, as mães se reúnem apenas em Buenos Aires; na Indonésia, o movimento em Jacarta teve um efeito dominó, inspirando Ações de Quintas-feiras similares nas principais cidades do grande arquipélago.


“Pensamos: se as mães da Plaza de Mayo usam lenços brancos, por que não usamos guarda-chuvas pretos?”, Sumarsih me contou. Segundo ela, as estratégias para tornar o movimento indonésio uma ação publicamente visível e sustentada se inspiraram na Argentina e também no simbolismo local: preto – Sumarsih explica – denota determinação, cuidado com a família, firmeza de fé e crença na proteção.


Duas das Mães da Plaza de Mayo visitaram a Indonésia em 2009. Enquanto a KontraS articulava o que Sumarsih e seus parceiros haviam planejado para a Anistia Internacional, o grupo internacional de direitos humanos conectou os dois movimentos de base. Taty Almeida e Aurora Morea foram as duas mães argentinas que se encontraram com Sumarsih e outros membros do Aksi Kamisan em Jacarta. Em uma tarde de quinta-feira, Almeida e Morea estiveram com seus colegas indonésios em frente ao palácio presidencial, em uma demonstração de solidariedade transnacional.


Essas conexões entre a Indonésia e a América do Sul, na violência e na solidariedade, servem de ponto de partida para esta coluna. Reaproprio o nome do plano brasileiro de extermínio inspirado na Indonésia – Operação Jacarta – para enfatizar as ligações muito diretas entre histórias aparentemente distantes. Por meio de entrevistas, análises históricas, crítica literária e mais, os leitores podem esperar investigações em redes globais de pensamento de direita, além de discussões sobre solidariedade transnacional e circulação cultural que foram desaparecidas, esquecidas ou pouco estudadas. Com o objetivo de ampliar os movimentos de resistência em todas as geografias, Operação Jacarta aborda histórias e memórias de autoritarismo na América Latina a partir de uma perspectiva global.


Fique ligado para mais.


 

Créditos da imagem destacada: Aghniadi/ Communication Officer/ Asia Justice and Rights (AJAR).



REFERÊNCIAS


BEVINS, Vincent. The Jakarta Method: Washington’s Anticommunist Crusade and the Mass Murder Program that Shaped Our World. New York: Public Affairs, 2020.

GUZMAN BOUVARD, Marguerite. Revolutionizing Motherhood: the mothers of the Plaza de Mayo. Lanham: Rowman & Littlefield Publishing Group, 1994.

ROOSA, John. Buried Histories: The Anticommunist Massacres of 1965-1966 in Indonesia. Madison, WI: University of Wisconsin Press, 2020.

SETIAWAN, Riyan. “13 Tahun Aksi Kamisan: Kado Janji Kosong Jokowi Tuntaskan Kasus HAM.” Tirto.id. Last modified 17 January 2020. https://tirto.id/13-tahun-aksi-kamisan-kado-janji-kosong-jokowi-tuntaskan-kasus-ham-etdN.

Entrevistas com Maria Catarina Sumarsih (Jacarta, 2019) e Haris Azhar (Jacarta, 2020).


 

Introducing Operation Jakarta


Every Thursday, hundreds of women gather in a central plaza in Buenos Aires in front of the Casa Rosada, the office of the president of Argentina. They are mothers, famous mothers: Las Madres de la Plaza de Mayo – or The Mothers of the Plaza de Mayo. They hold photos of their disappeared children and wear white kerchiefs bearing the names of their loved ones.


Madres de Plaza de Mayo. Reprodução.

Nearly 10,000 miles from Buenos Aires, a different group gathers in front of the Istana Merdeka, the Indonesian presidential palace. It is also a Thursday afternoon. Many in the group are mothers, but not everyone. No one has a white kerchief; instead, everyone wears black clothing and most carry black umbrellas, even when it is not raining. But the umbrellas are embellished with statements demanding truth and justice for the disappeared, too. Some participants carry photographs or stenciled drawings of their loved ones. They gather every week without fail.


This column will be a space for investigating intriguing, overlooked transnational parallels in dictatorship memory like the one described above. I first witnessed the Mothers of the Plaza de Mayo on a Thursday afternoon next to the Casa Rosada when I studied in Buenos Aires in 2016, which is also when I began developing comparative research into collective memory of military dictatorships in Argentina (1976-1983) and Brazil (1964-1985). Three years later, while working as a literary translator and cultural critic in Jakarta, I found out about the second, less globally known movement – Aksi Kamisan, or Thursday Action, which organizes around justice for crimes committed during the Indonesian military dictatorship (1965-1998). On one particularly stuffy Thursday afternoon, I took the bus to Monas, Jakarta’s massive central square, and participated in the protest. The similarities to the Argentinian movement were striking. I started looking into whether the two movements are connected, and if so, why and how.


One of the most internationally visible and successful initiatives for truth and justice, the Mothers of the Plaza de Mayo began in 1977, while the Argentinian civil-military dictatorship was in power. These women marched demanding information on the whereabouts of their children, and after the dictatorship ended, they continued marching to pressure the state to carry out trials against those responsible for the extrajudicial violence that took place in 1976-1983. Each week, the mothers continue to gather today in the Plaza de Mayo: donning their iconic white kerchiefs, they demand justice for dictatorship-era crimes and organize around contemporary human rights causes.


On the other hand, Aksi Kamisan – founded in 2007 by Indonesian mothers whose children were disappeared by the Suharto dictatorship and its civil society allies – demands accountability for state violence carried out in Indonesia, past and present. Like the civil-military regimes in Argentina, Brazil, Chile, Uruguay and Paraguay, General Suharto’s “New Order” dictatorship was anti-communist in ideology and persecuted anyone perceived to be a leftist with support from the United States. The military’s strategy for political elimination was forced disappearance and extrajudicial mass killings, leaving an estimated one million dead in 1965-66. In the case of Indonesia, none of the members of the military government has stood trial for their crimes.


How closely tied were these anti-communist authoritarian regimes in the 1960s and 1970s? A recent investigation by US-American journalist Vincent Bevins makes headway into that question on a global scale. In his 2020 book The Jakarta Method, Bevins traces how distant far-right military regimes with economic goals favorable to the United States were not only ideologically similar but also directly in contact with one another. Military officials from the Americas and Indonesia met at Fort Leavenworth, Kansas, in the early 1960s, for example, to participate in military training programs with an anti-communist ideological bent.


After General Suharto carried out the coup d’état and mass killings of leftists in 1965, the word “Jakarta” became a buzzword for successful politicide. In Chile in the early 1970s, in the years before Augusto Pinochet seized power from democratically elected president Salvador Allende, the phrases Yakarta viene and Yakarta se acerca (Jakarta is coming) were tagged on walls across Santiago or sent as a threat to prominent leftwing intellectuals in the form of anonymous postcards.


In Brazil, the word Jakarta had violent connotations as well. According to Bevins’s findings, the civil-military dictatorship established Operação Jacarta – Operation Jakarta – a program from the mid-1970s supported by hardliners in the regime such as general Ednardo D’Avila Mello. The operation entailed a program of mass killing more extensive than what Brazil had already seen. The full vision of Operation Jakarta was never carried out, but several killings were committed in the name of the Indonesian capital, including that of journalist Vladimir Herzog.


With these surprisingly close relationships between military regimes, one might imagine how a movement for truth and justice in Indonesia could more than coincidentally connect to Latin American strategies for combatting impunity. To consider that possibility, I spoke with Maria Catarina Sumarsih, one of the mothers who founded the Indonesian Thursday action.

We sat in her home on a calm street in one of Jakarta’s west zones, a humid breeze wafting through the open door. She offered me hot tea and kue kastengel as she told me the story of Aksi Kamisan, which is also a story of her own loss. Sumarsih’s son, Bernardinus Realino Norma Irmawan, also known as Wawan, was a member of the Indonesian student movement against Suharto. Wawan was disappeared in November 1998. Sumarsih spent the years following her son’s disappearance trying to build movements with other mothers. In the mid-2000s, she strategized with leaders from the Indonesian civil society organization KontraS (Commission for the Disappeared and Victims of State Violence), who were aware of international movements with similar goals. Organizers from KontraS like Haris Azhar had studied political movements abroad, and the Mothers of the Plaza de Mayo became a key reference for what would later become Aksi Kamisan.


Aksi Kamisan is not a carbon copy of the Argentinian movement. Instead, it is a translation. In Argentina, the mothers focus largely on one form of state violence – disappearance – while the crimes raised in Indonesia’s Aksi Kamisan are more varied because of the wider range of crimes committed by the state from 1965-1998 and in the present day. The mothers in Buenos Aires march while in Jakarta they stand completely still and remain silent. In Argentina, the mothers gather only in Buenos Aires, while in Indonesia, the movement in Jakarta had a domino effect, inspiring similar Thursday actions in major cities across the large archipelago.


“We thought, if the Mothers of the Plaza de Mayo use white scarves, why don’t we use black umbrellas?” Sumarsih told me, explaining that the strategies for making the Indonesian movement a publicly visible, sustained action took inspiration from Argentina while also drawing on local symbolism. Black, Sumarsih explains, connotes determination, care for family, firmness of faith, and belief in protection.


Two of the Mothers of the Plaza de Mayo visited Indonesia in 2009. As KontraS articulated what Sumarsih and her partners had planned to Amnesty International, the international human rights group connected the two grass-roots movements. Taty Almeida and Aurora Morea were the two Argentinian mothers who met Sumarsih and other members of Aksi Kamisan in Jakarta. On a Thursday afternoon, Almeida and Morea stood with their Indonesian counterparts in front of the presidential palace in a statement of transnational solidarity.


These connections between Indonesia and South America, in violence and in solidarity, serve as a point of departure for this column. I reappropriate the name of Brazil’s Indonesia-inspired plan for extermination, Operation Jakarta, to emphasize the very direct links between seemingly distant histories. Through interviews, historical analysis, literary criticism, and more, readers can expect investigations into global networks of rightwing thought and discussions of transnational solidarity and cultural circulation that have been disappeared, forgotten, or understudied. With the goal of amplifying resistance movements across geographies, Operation Jakarta approaches histories and memories of authoritarianism in Latin America from a global perspective.


Stay tuned for more.


Article cover. Photograph: Aghniadi/ Communication Officer/ Asia Justice and Rights (AJAR)

 

Article cover. Photograph: Aghniadi/ Communication Officer/ Asia Justice and Rights (AJAR)



REFERENCES


BEVINS, Vincent. The Jakarta Method: Washington’s Anticommunist Crusade and the Mass Murder Program that Shaped Our World. New York: Public Affairs, 2020.

GUZMAN BOUVARD, Marguerite. Revolutionizing Motherhood: the mothers of the Plaza de Mayo. Lanham: Rowman & Littlefield Publishing Group, 1994.

ROOSA, John. Buried Histories: The Anticommunist Massacres of 1965-1966 in Indonesia. Madison, WI: University of Wisconsin Press, 2020.

SETIAWAN, Riyan. “13 Tahun Aksi Kamisan: Kado Janji Kosong Jokowi Tuntaskan Kasus HAM.” Tirto.id. Last modified 17 January 2020. https://tirto.id/13-tahun-aksi-kamisan-kado-janji-kosong-jokowi-tuntaskan-kasus-ham-etdN.

Personal interviews: Maria Catarina Sumarsih (Jakarta, 2019) and Haris Azhar (Jakarta, 2020).

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