Wallace Andrioli
5 filmes sobre o golpe de 1964
Atualizado: 29 de abr. de 2021
O golpe de 1964 e a ditadura militar estão, claro, conectados. Mas não são exatamente a mesma coisa. Como lembra o historiador Carlos Fico, o golpe não pressupunha a ditadura e essa última foi resultado de um processo político que se desenrolou nos meses que sucederam a derrubada do presidente João Goulart. Vou indicar aqui cinco ótimos filmes que abordam de alguma forma a temática do golpe de 1964. É verdade que alguns deles até extrapolam esse recorte e falam um pouco da ditadura em si, mas todos têm em comum o interesse pelos impactos e origens sociais dos acontecimentos daquele ano fatídico.
O Desafio (1965), de Paulo César Saraceni, foi o primeiro filme a repercutir os acontecimentos de 1964. Na trama, o jornalista de esquerda Marcelo (Oduvaldo Vianna Filho) mergulha na amargura após a derrota política representada pelo golpe, enquanto repensa seu relacionamento amoroso com uma mulher burguesa, casada com um poderoso industrial.
A Entrevista (1966), de Helena Solberg, não é, a princípio, um filme sobre o golpe de 1964. A diretora se dedica na maior parte do tempo a entrevistar mulheres de classe média, que revelam suas expectativas e opiniões sobre assuntos diversos. Ao final, no entanto, Solberg introduz cenas das Marchas da Família com Deus pela Liberdade, lembrando que as personagens de seu filme foram parte importante da base social do golpe.
Jango (1984), de Silvio Tendler, é um documentário bastante emblemático do período da abertura, que recupera e biografa a figura do ex-presidente João Goulart, derrubado pelo golpe de 1964. O foco do filme é nos acontecimentos políticos dos anos 1960, a ascensão de Goulart ao poder após a renúncia de Jânio Quadros, sua queda e exílio.
Um dos melhores e mais importantes exemplares da história do cinema brasileiro, Cabra marcado para morrer (1984), de Eduardo Coutinho, aborda tanto a repressão militar sobre os movimentos camponeses na década de 1960 quanto os efeitos do golpe e da ditadura sobre a realização de filmes políticos no país. Inicialmente uma narrativa ficcional inspirada em personagens e fatos reais, Cabra Marcado para Morrer teve sua produção interrompida pelo golpe de 1964 e retomada apenas no período da abertura, sendo transformado num documentário sobre duas trajetórias acidentadas: a da protagonista, Elizabeth Teixeira, e a do próprio filme.
Único filme da lista realizado após o fim da ditadura militar, O dia que durou 21 anos (2013), de Camilo Tavares, é lembrado aqui por seu recorte bastante específico: o envolvimento norte-americano no golpe de 1964, tomando por base principalmente a pesquisa do historiador Carlos Fico a esse respeito. Apesar do formato bastante convencional, o documentário de Tavares tem esse mérito de dialogar frontalmente com a historiografia contemporânea.
Imagem destacada: Cena do filme Cabra Marcado para Morrer (1984), de Eduardo Coutinho.
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