A biblioteca de... Carlos Fico
Atualizado: 16 de fev.
A partir de entrevistas curtas, a série “A biblioteca de...” é um convite para nossos leitores conhecerem mais o universo de nomes importantes da historiografia. Aquele ou aquela que nos inspira pode indicar caminhos de leitura fundamentais para o nosso aprendizado. Por isso, conhecer o que essas referências leem é mais do que uma simples curiosidade: é, antes de tudo, um modo de descobrir novos horizontes de saber.
O convidado desta edição é o historiador Carlos Fico. Professor titular de História do Brasil da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisador 1C do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fico é referência obrigatória em estudos sobre ditadura militar no Brasil. Doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), foi coordenador da área de História da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) entre 2011 e 2018. Em 2008, foi agraciado com o Prêmio Sergio Buarque de Holanda de Ensaio Social da Biblioteca Nacional. Dentre seus livros mais famosos, destacam-se Reinventando o otimismo: ditadura, propaganda e imaginário social no Brasil (1969-1977), de 1997; Como eles agiam. Os subterrâneos da ditadura militar: espionagem e polícia política, de 2001; Além do golpe: versões e controvérsias sobre 1964 e a ditadura militar, de 2004; e O grande irmão: da Operação Brother Sam aos anos de chumbo. O governo dos Estados Unidos e a ditadura militar brasileira, de 2008.
Que livro você recomenda para quem está iniciando na área de História?
Eu costumava sugerir dois livros do Italo Calvino, Por que ler os clássicos e Seis propostas para o próximo milênio. Mas o que eu sempre recomendo é que os alunos façam uma lista individualizada de livros importantes da historiografia brasileira e de ficção nacional e estrangeira que ainda não leram, independentemente de eles terem relação com as disciplinas que estão cursando. Para isso, eu forneço uma lista relativamente grande que serve como ponto de partida.
Qual foi o livro que você mais gostou de escrever?
Como experiência de escrita foi Reinventando o otimismo. Como resultado de pesquisa, O grande irmão.
Que livro que você escreveu teve maior repercussão e crítica? A que atribui isso?
Além do golpe. Tem caráter de manual, um livro introdutório ao golpe de 64 e à ditadura militar, sendo também um guia historiográfico e documental. Como foi lançado em 2004, nos 40 anos do golpe, se beneficiou da efeméride. Hoje está muito desatualizado, mas ainda é citado.
Qual livro de História do Brasil é obrigatório ter na estante?
Acho que nenhum, ou melhor, depende muito do que se pretende fazer. Existem livros incontornáveis? Sim, aqueles que tratam dos temas de sua pesquisa, mesmo os ruins. Entretanto, acho difícil definir um livro que, necessariamente, todo historiador ou aluno de história deva ter. Dicionários, com certeza, são indispensáveis. Uso diariamente dicionários de regência verbal e nominal, além do Houaiss e do Dicionário analógico da Língua Portuguesa, do Francisco Ferreira Azevedo.
Em sua biblioteca, tirando suas próprias obras, qual autor(a) está mais presente?
Tenho todos os livros dos colegas que estudam a ditadura militar brasileira e, por isso, são muito presentes autores que admiro e consulto com frequência como Daniel Aarão Reis, Marcos Napolitano, Marcelo Ridenti e Rodrigo Patto Sá Motta.
Qual foi o último livro que você leu e que lhe marcou?
Esse tipo de impacto não é frequente. Há muitos livros bons que li nos últimos anos, em geral teses de doutorado que são publicadas. Mas eu não diria que eles me impactaram como, por exemplo, fiquei impressionado quando li, décadas atrás, Visão do Paraíso, do Sergio Buarque de Holanda.
Qual o seu livro preferido fora da área de História?
Deve parecer muito esquisito, mas eu sempre leio e releio as Mémoires d’outre-tombe, do visconde de Chateaubriand. Faço quase a mesma coisa com o Speak, Memory, do Vladimir Nabokov. Os livros do Pedro Nava eu releio de vez em quando. Mas eu também leio qualquer memória ou biografia que me caia nas mãos. Quando é muito ruim, volto para Nabokov, Chateaubriand ou Pedro Nava.
Qual tema você pretende abordar no seu próximo livro?
Estou escrevendo meu último livro. Depois desse vou parar. Ele vai tratar do intervencionismo militar na história republicana brasileira.
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