A biblioteca de... Marcos Napolitano
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  • Foto do escritorGuilherme Leite Ribeiro

A biblioteca de... Marcos Napolitano

Atualizado: 16 de fev.

A partir de entrevistas curtas, a série “A biblioteca de...” é um convite para nossos leitores conhecerem mais o universo de nomes importantes da historiografia. Aquele ou aquela que nos inspira pode indicar caminhos de leitura fundamentais para o nosso aprendizado. Por isso, conhecer o que essas referências leem é mais do que uma simples curiosidade: é, antes de tudo, um modo de descobrir novos horizontes de saber.


Foto do historiador Marcos Napolitano

Nosso primeiro convidado é o historiador Marcos Napolitano. Professor titular de História do Brasil Independente na Universidade de São Paulo (USP), onde também cursou o mestrado e o doutorado, ele é pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Especialista em História do Brasil Republicano, sobretudo no que concerne a seus aspectos culturais, o pesquisador publicou diversos livros, dentre os quais Seguindo a canção: engajamento político e indústria cultural na MPB (1959-1969) (FAPESP, 2001), 1964: a história do regime militar brasileiro (Contexto, 2014) e, mais recentemente, Juventude e contracultura (Contexto, 2023).


Que livro você recomenda para quem está iniciando na área de História?


Apologia da História, de Marc Bloch. É um clássico, para todos os gostos, correntes metodológicas e ideologias. Organiza as ideias de quem está querendo aprender sobre o ofício do historiador.


Qual foi o livro que você mais gostou de escrever?


1964: a história do regime militar brasileiro. Nele, acho que consegui reunir minhas posições historiográficas sobre o período, rever algumas teses que me incomodavam e, ao mesmo tempo, exercitar um estilo narrativo voltado tanto para o leitor especializado quanto para o leitor diletante. Mas não posso deixar de citar a experiência de escrever Coração Civil: a vida cultural sob o regime militar, publicado em 2017, um ensaio histórico sobre o conceito de “resistência cultural” e suas variáveis estéticas e ideológicas nas várias áreas culturais e artísticas.


Que livro que você escreveu teve maior repercussão e crítica? A que atribui isso?


O meu livro que teve maior repercussão crítica foi Seguindo a canção: engajamento político e indústria cultural na MPB (1959-1969), versão em livro da minha tese de doutorado. Apesar da edição sofrível, texto pesado e da pouca distribuição, o livro conseguiu circular entre pesquisadores do Brasil e do exterior, e foi considerado uma maneira inovadora de pensar a relação entre música popular, cultura e política na história do Brasil.


Qual livro de História do Brasil é obrigatório ter na estante?


É uma pergunta muito difícil, pois o campo da história do Brasil tem muitos clássicos obrigatórios e autores referenciais. Mas eu vou escolher o volume 7 da História Geral da Civilização Brasileira – Do Império à República, escrito por Sérgio Buarque de Holanda. Combina erudição, abrangência e narrativa elegante, três coisas muito difíceis de harmonizar em um trabalho historiográfico.


Em sua biblioteca, tirando suas próprias obras, qual autor(a) está mais presente?


Bem, confesso que nunca fiz esta contabilidade, mas arrisco dizer que a disputa está entre Thompson, Foucault e Hobsbawm. Entre os brasileiros, Boris Fausto e Rodrigo Patto Sá Motta.


Qual foi o último livro que você leu e que lhe marcou?


Na área de História, gostei muito de ler o livro Pós-Guerra: uma história da Europa desde 1945, de Tony Judt. Tenho até algumas discordâncias no plano da interpretação dos processos históricos, mas é um livro marcante pela capacidade de síntese ao conectar várias histórias nacionais em uma narrativa articulada. No campo da literatura, ainda que marcada pela reflexão histórica, um livro que me marcou nos últimos anos foi K – relato de uma busca, de Bernardo Kucinski. É um livro obrigatório para quem quer compreender as consequências da violência política na vida dos indivíduos e da sociedade brasileira. Mas também gostaria de destacar Cadernos de memórias coloniais, de Isabela Figueiredo, que narra a vida da autora, uma moçambicana branca durante a crise do colonialismo português.


Qual o seu livro preferido fora da área de História?


Para esta resposta, vou apelar para minha memória afetiva de leitor, para além de qualquer escolha mais rigorosa. Ainda na graduação li o livro Sociedade contra o Estado, do antropólogo Pierre Clastres. É um pequeno livro de ensaios sobre as sociedades indígenas da América do Sul, com forte carga de crítica política ao eurocentrismo, mas sem se deixar levar por qualquer tipo de crítica superficial. Em especial, o capítulo “O arco e o cesto” é, para mim, um paradigma de texto em ciências humanas, em termos de estrutura, argumentação e estilo.


Qual tema você pretende abordar no seu próximo livro?


Minha pesquisa atual é sobre o impacto do Modernismo brasileiro na formação de uma elite política e cultural em perspectiva de longo prazo, processo que eu chamo de “Longo Modernismo”, que cobre a década de 1920 à década de 1970. Acho que vai ser alguma coisa por aí, mas ainda não defini o recorte específico.

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