Copa do Mundo 2022 - um filme, um livro, uma música
Atualizado: 19 de dez. de 2022
Infelizmente, para os entusiastas da Copa do Mundo, o torneio chegou ao fim, mas sempre há muito o que falar sobre mais um acontecimento desse evento de proporções globais. Sendo o esporte mais praticado do mundo, o futebol consegue se relacionar, direta ou indiretamente, com a vida cotidiana, sendo capaz de nos dizer muito sobre nossas virtudes e contradições. Talvez seja algo exagerado afirmar que o futebol é capaz de explicar o mundo, mas não há dúvidas de que este esporte pode nos ajudar a compreender a experiência humana na contemporaneidade. Pensando nisso, para não deixarmos o clima de copa terminar, preparamos dicas que propõem discutir temas relevantes por meio do futebol.
FILME:
“Diego Maradona” (2019) de Asif Kapadia.
O maior personagem do futebol mundial nos deixou recentemente, mas não faltam produções para rememorar e discutir sua trajetória dentro e fora das quatro linhas. Maradona não ficou marcado apenas pela genialidade, utilizando sua canhotinha, e pelo gol da “Mano de Dios” (mão de Deus) na Copa do Mundo de 1986, mas também se destacou por seus posicionamentos políticos e sua vida cheia de contradições, que fizeram o jornalista Eduardo Galeano sintetizar o jogador como “o mais humano de todos os deuses”. O documentário do diretor inglês Asif Kapadia procurar destrinchar muitas dessas contradições do genial futebolista. Por ter muito o que falar sobre Maradona, o documentário aborda temas como sua relação com drogas, imprensa, política, entre outros.
LIVRO:
“Com a taça nas mãos: sociedade, copa do mundo e ditadura no Brasil e na Argentina” de Lívia Magalhães (2014).
O livro da historiadora Lívia Magalhães, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), com prefácio do historiador Daniel Aarão Reis, propõe uma ampla investigação sobre as relações entre política e futebol na Copa de 1970, no México, onde a seleção brasileira venceu o campeonato pela terceira vez, e a de 1978, na Argentina, quando os hermanos conquistaram seu primeiro título. A escolha de abordar essas duas copas se deve ao fato de que tanto a Argentina quanto o Brasil viviam sob ditaduras militares e ambos os governos utilizaram da trajetória de suas respectivas seleções e de suas conquistas para fins políticos. Além disso, a historiadora procura debater acerca de manifestações sociais diversas que vão além da dicotomia entre a adesão a um discurso pró-ditadura e a resistência à repressão. Assim, a autora complexifica tais temas para além de mitificações.
MÚSICA:
“Aqui é o país do futebol” de Milton Nascimento e Fernando Brant (1970).
O samba foi feito pelo poeta Fernando Brant em parceria com Milton Nascimento, tendo sido gravado para a trilha sonora do documentário “Tostão – A fera de ouro”. A música, na voz de Milton Nascimento, também foi gravada em um álbum de outro gigante da música brasileira, Wilson Simonal. A letra composta por Brant possui algumas formas de interpretação, por um lado, pode ser vista como ufanista, ainda mais em um contexto de ditadura militar, quando houve forte instrumentalização da seleção como propaganda do regime, mas, por outro lado, também pode ser uma crítica direcionada à certa tendência histórica da população brasileira esquecer as contradições do país em prol da paixão pelo futebol. A dubiedade da letra torna-se mais interessante quando interpretada por Wilson Simonal, que foi acusado de alienado e conivente com o regime.
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