Em memória de Marielle Franco
Atualizado: 13 de abr. de 2022
Há poucos dias, escrevi um texto em homenagem às mulheres negras tomando como referência a trajetória e as contribuições acadêmicas de Lélia González e Beatriz Nascimento. Uma semana depois, uma mulher negra, periférica e defensora dos direitos humanos foi brutalmente assassinada no Rio de Janeiro.
A vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) simbolizava e renovava, na atualidade, a luta iniciada décadas atrás pelas mulheres lembradas e reverenciadas no artigo publicado há poucos dias no História da Ditadura. Oriunda do Complexo da Maré, formou-se em Sociologia em função de uma bolsa de estudos obtida na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Posteriormente, tornou-se mestre em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense. Em 2016, foi a quinta vereadora mais votada do município do Rio de Janeiro.
Uma de suas últimas ações foi a participação na roda de conversa “Mulheres negras movendo estruturas”, transmitida ao vivo de seu Facebook minutos antes de ser assassinada. Dias antes, porém, a vereadora havia denunciado abusos policiais na favela de Acari, no Rio de Janeiro, e tinha sido nomeada para compor um comissão para investigar os abusos cometidos desde o início da intervenção federal no estado.
No mesmo dia em que Marielle foi assassinada, a Guarda Municipal de São Paulo reprimiu violentamente os professores da rede pública de ensino que protestavam contra o aumento no desconto previdenciário[3].
Além da continuidade da política de extermínio da população preta, pobre e periférica, a execução de Marielle representa a face mais nefasta da política brasileira desde o golpe de 2016. Mais do que um golpe contra uma pessoa ou um partido político, foi uma ação contra a camada historicamente mais numerosa e desfavorecida da sociedade brasileira. Tornam-se urgentes e justificáveis, portanto, os cursos sobre aquele fato histórico em diversas universidades públicas em todo o país.
O fato de seu assassinato ocorrer exatos 40 anos depois do assassinato do estudante secundarista Edson Luís e do recrudescimento do arbítrio ditatorial imposto através do Ato Institucional n. 5 (AI-5), em um contexto marcado pela retirada de direitos sociais – simbolizada pela reforma trabalhista – faz com que este fato seja digno de reflexão por todas e todos que lutam por um mundo mais justo e livre de opressões de qualquer espécie.
Marielle Franco, presente!
Graciella Fabrício da Silva é historiadora e professora de História.
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