Fascismos(s) no bolsonarismo: a tragédia yanomami
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  • Foto do escritorOdilon Caldeira Neto

Fascismos(s) no bolsonarismo: a tragédia yanomami

Atualizado: 23 de jan. de 2023

Nos últimos anos, fui muito perguntado – e questionado – sobre a presença do fascismo no bolsonarismo. Longe de cair em equivalências apressadas e nos usos políticos do termo, dos quais discordo, respondia que havia dois núcleos que irradiavam e condensavam uma “pegada” fascista.


A primeira tendência era um aspecto mais objetivo: grupelhos, lideranças e acenos concretos. Nesta, a presença das formas clássicas do fascismo – e suas organizações – eram mobilizadas tanto para o indicativo às tendências fascistas, como para interlocução com a cultura política. Nesta primeira tendência, era/é um movimento orientado – ou enclausurado, se preferirem – nas franjas, mas que tinha uma função instrumental a partir da mobilização dessas franjas e de um aceno ao léxico fascista.


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajou a Roraima para avaliar a crise sanitária da etnia Yanomami, no dia 21 de janeiro de 2023. Reprodução

A segunda grande tendência tinha/tem uma propriedade central. Ela fornece uma chave de atualização das premissas históricas, incorporando novas dinâmicas. Em linhas gerais, ela poderia servir como fator de radicalização e mobilização, mas sobretudo para a violência contra os “inimigos”. Podemos chamá-la, em linhas gerais, de “construção social do outro”, lido como inimigo a ser perseguido e, potencialmente, exterminado. Não há, claro, uma rigidez absoluta sobre quais seriam os “outros”. Variavam os sujeitos, mas havia um movimento de silenciamento e desumanização.


Os relatos que chegam sobre a morte de centenas de yanomamis devem ser lidos, penso, a partir dessa segunda categoria. É evidente que a perseguição aos yanomamis não é matéria nova na nossa história. Quem já leu A farsa ianomâmi, de Carlos Alberto Lima Menna Barreto, sabe disso.


O ponto é que o bolsonarismo avançou (se é que cabe o termo!) na forma como o “fascismo clássico” pensava sobre os povos originários. Amparado em setores do pensamento militar, adicionando a questão do agronegócio e do nacionalismo cristão, temos um “outro” tratado com inimigo. Nesse sentido, tratar o bolsonarismo à luz dos estudos sobre o fascismo não era e nunca foi, na minha ótica, uma tentação às assimilações. Longe disso: é algo do campo político, propriamente dito. No entanto, era um alerta. Um alerta sobre violência, extremismo e massacres.


Para fechar meu argumento, vou repetir como um mantra: olhar o bolsonarismo apenas à luz do campo internacional é esquecer a nossa história e as nossas culpas, todas elas ainda atuais. A morte dos yanomamis é fruto desse equívoco.


Como citar este artigo:

CALDEIRA NETO, Odilon. Fascismos(s) no bolsonarismo: a tragédia yanomami. História da Ditadura, 23 jan. 2023. Disponível em: https://www.historiadaditadura.com.br/post/fascismos-no-bolsonarismo-a-tragedia-yanomami. Acesso em: [inserir data].


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