Plano de aula: O movimento negro e a ditadura.
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  • Foto do escritorHistória da Ditadura

Plano de aula: O movimento negro e a ditadura.

Em 2003, foi criada a lei 10.639, instituindo a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura africanas e afro-brasileiras nas instituições de ensino de todo o país. A criação da referida lei foi resultado da luta empreendida pelo movimento negro brasileiro, sobretudo a partir da década de 1970. Apesar do avanço significativo em termos de combate ao racismo dentro das escolas e universidades, ainda existem algumas limitações em sua aplicação. Uma delas é a alegada falta de recursos e materiais. Para ajudar a superar essa limitação, resolvi elaborar uma atividade sobre o movimento negro brasileiro durante o período da ditadura militar (1964-1985).

Para o desenvolvimento da proposta, que será desenvolvidas junto às turmas da terceira série do Ensino Médio, selecionei duas fontes de naturezas diversas: a música “Que bloco é esse?”, do bloco afro Ilê Aiyê, e a carta convocatória-manifesto à população que marcou a fundação do Movimento Negro Unificado (MNU).

OBJETIVO: Apresentar a luta do movimento negro brasileiro contra o racismo e as desigualdades sociais, nos campos da cultura e da política, durante o período da ditadura.

CARGA HORÁRIA: 100 minutos (2 tempos de 50 minutos)

PÚBLICO ALVO: 3º ano do Ensino Médio

OBJETIVOS ESPECÍFICOS: Identificar as diferentes formas de manifestação do racismo na sociedade brasileira; analisar a situação da população negra brasileira durante o período citado.

CONTEÚDOS RELACIONADOS: História do Brasil e Geral do século XX; Filosofia; Sociologia.

PROCEDIMENTO:

– Retomada das características e fatos marcantes do período ditatorial (atos institucionais, repressão, perseguição política, concentração de renda, etc.).

– Destacar a continuidade histórica do racismo na sociedade brasileira e as lutas da população negra no Brasil, particularmente durante o período da ditadura. Nesse momento, executar a música “Que bloco é esse?”, do bloco afro Ilê Aiyê. Em seguida, contextualizar a composição, apresentando o propósito da fundação do bloco, destacando sua atuação contra o racismo no campo da cultura, e explicar a perseguição sofrida pelos seus integrantes.

– Logo após, expor a formação de grupos do movimento negro brasileiro com maior viés político, com destaque para o Movimento Negro Unificado. Leitura da “Carta à população”.

– Debate, entre as/os estudantes, sobre a atuação do movimento negro no período e a importância das conquistas da população negra através da luta organizada contra o racismo.

– Realização de atividades, em folha, de análise das fontes apresentadas.

RECURSOS:

– Aparelho para reprodução da música.

-Datashow para projeção dos documentos ou cópias em folha.

AVALIAÇÃO:

– Participação no debate.

– Análise das fontes utilizadas.

– Pesquisa em jornais da última semana sobre casos recentes de violência do Estado contra a população negra no Brasil.

FONTES UTILIZADAS:

Que bloco é esse?

(Paulinho Camafeu, 1975)

Que bloco é esse? Eu quero saber, É o mundo negro Que viemos mostra pra você Pra você Somos crioulo doido Somos bem legal Temos cabelo duro Somos black power

Branco, se você soubesse O valor que o preto tem, Tu tomava um banho de piche, branco E ficava preto também Não te ensino minha malandragem Nem tão pouco minha filosofia Por quê? Quem dá luz ao cego É bengala branca E santa luzia Ai, ai meu Deus!

(Ilê Aiyê Fonte: EBC)

(Ilê Aiyê Fonte: EBC)


(Ilê Aiyê Fonte: Correio Nagô)

(Ilê Aiyê Fonte: Correio Nagô)


CARTA CONVOCATÓRIA

(Movimento Negro Unificado, 1978)

“Não podemos mais calar. A discriminação racial é um fato marcante na sociedade brasileira, que barra o desenvolvimento da Comunidade Afro-Brasileira, destrói a alma do homem negro e sua capacidade de realização como ser humano.

O Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial foi criado para que os direitos dos homens negros sejam respeitados. Como primeira atividade, este Movimento realizará um Ato Público contra o Racismo, no dia 7 de julho às 18h30min horas, no Viaduto do Chá. Seu objetivo será protestar contra os últimos acontecimentos discriminatórios contra negros, amplamente divulgados pela Imprensa.

Nós, Entidades Negras, reunidas no Centro de Cultura e Arte Negra no dia 18 de Junho, resolvemos criar um Movimento no sentido de defender a Comunidade Afro-Brasileira contra a secular exploração racial e desrespeito humano a que a Comunidade é submetida.

No dia 28 de abril, numa delegacia de Guaianazes, mais um negro foi morto por causa das torturas policiais. Este negro era Robson Silveira da Luz, trabalhador, casado e pai de filhos. No Clube de Regatas Tietê, quatro garotos foram barrados do time infantil de voleibol pelo fato de serem negros. O diretor do Clube deu entrevistas nas quais afirma as suas atitudes racistas, tal a confiança de que não será punido por seu ato.

Nós também sabemos que os processos desses casos não darão em nada. Como todos os outros casos de discriminação racial, serão apenas mais dois processos abafados e arquivados pelas autoridades deste país, embora um dos casos tenha a agravante da tortura e consequente morte de um cidadão.

Mas o Ato Público Contra o Racismo marcará fundo nosso repúdio e convidamos a todos os setores democráticos que lutam contra o desrespeito e as injustiças aos direitos humanos, a engrossarem fileiras com a Comunidade Afro-Brasileira nesse ato contra o racismo.

Fazemos um convite especial a todas as entidades negras do país, a ampliarem nosso movimento. As entidades negras devem, desempenhar o seu papel histórico em defesa da Comunidade Afro- Brasileira; e, lembramos, quem silencia consente.

Não podemos mais aceitar as condições em que vive o homem negro, sendo discriminado da vida social do país, vivendo no desemprego, subemprego e nas favelas. Não podemos mais consentir que o negro sofra as perseguições constantes da polícia, sem dar uma resposta.

Todos ao ato público contra o racismo contra a discriminação racial contra a opressão policial pelo fortalecimento e união das entidades afro- brasileiras”.

Ato público contra o racismo, escadaria do Theatro Municipal de São Paulo, 1978. (Fonte da foto: Afropress)

Ato público contra o racismo, escadaria do Theatro Municipal de São Paulo, 1978. (Fonte da foto: Afropress)


Graciella Fabrício da Silva é historiadora e professora de História.

Para saber mais:

Petrônio Domingues. “Movimento Negro Brasileiro: alguns apontamentos históricos.” In: Tempo. [on-line]. Volume 12. Número 23. Rio de Janeiro, Julho de 2007. Disponível em: http://www.historia.uff.br/tempo/artigos_livres/v12n23a07.pdf.

Amílcar Araújo Pereira. O mundo negro. Relações raciais e a constituição do Movimento Negro contemporâneo no Brasil. Niterói: UFF, 2010. Tese (Doutorado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, 2010. Disponível em: http://www.historia.uff.br/stricto/td/1254.pdf.

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