Eduardo Castro
A biblioteca de... Antonio Paulo Rezende
Atualizado: 28 de mai.
A partir de entrevistas curtas, a série “A biblioteca de...” é um convite para nossos leitores conhecerem mais o universo de nomes importantes da historiografia. Aquele ou aquela que nos inspira pode indicar caminhos de leitura fundamentais para o nosso aprendizado. Por isso, conhecer o que essas referências leem é mais do que uma simples curiosidade: é, antes de tudo, um modo de descobrir novos horizontes de saber.
Nosso entrevistado desta edição é o historiador Antonio Paulo de Morais Rezende, Professor Emérito da Universidade Federal de Pernambuco. Antonio Paulo possui graduação em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (1975), mestrado em História pela Universidade Estadual de Campinas (1981), doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo (1992) e pós-doutorado também pela USP (1998). Atualmente, é consultor ad hoc da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior da FAPESP, além de membro do conselho editorial da Revista Saeculum do PPGH da UFPB e da Clio-Nordeste-História, do PPGH da UFPE. Antonio Paulo Rezende também atua no grupo de pesquisa História, Política, Memória e Imagem do CNPq. Tem experiência na área de História, com ênfase em História do Brasil, atuando principalmente nos seguintes temas: história, cultura, imaginário, modernidade e memória. O seu tema atual de pesquisa é relacionado com as relações afetivas de convivência dentro da contemporaneidade, analisando as cartografias que tentam renovar as sociabilidades. Assim, em seu trabalho há um diálogo permanente do ensino com a pesquisa, enfatizando as metas e os interesses dos alunos, a velocidade das relações sociais e a complexidade que explora e inquieta a reflexão e a sensibilidade.
Que livro você recomenda para quem está iniciando na área de História?
Considero o livro de Marc Bloch, Introdução à História, como importante para abrir a imaginação. Pensar a história como construção da possibilidade mostra a complexidade de trabalhar com as fontes e renovar a escrita. Mas não se pode negar a ampliação das leituras, com obras de Jacques Le Goff e Georges Duby, trazendo a diversidade das épocas e das metodologias. Há sempre uma lacuna, uma incompletude. O absoluto não é moradia de quem analisa as relações humanas.
Qual foi o livro que você mais gostou de escrever?
O primeiro e mais simples: Todos contam sua História. Escrevi com muita emoção. Livro feito para a Rede de Ensino do Recife. As ilustrações foram desenhadas por Lailson [de Holanda Cavalcanti] com grande sintonia com o texto. A prioridade foi acompanhar as mudanças na historiografia, fugindo da linearidade cronológica. Foi uma aprendizagem que não saiu da memória.
Que livro que você escreveu teve maior repercussão e crítica? A que atribui isso?
A publicação da minha tese de doutorado teve boa repercussão: (Des)encantos modernos: história do Recife na década de 1920. O tema é renovador e o texto, atraente. Há sugestões de mudanças nos conceitos e na construção da narrativa. Além disso, se utiliza de uma bibliografia que modifica as possibilidades de se pensar a cidade moderna. Ressalta os entrelaçamentos dos conceitos e discute os significados da modernidade e da tradição.
Qual livro de História do Brasil é obrigatório ter na estante?
Se puder reunir a História Geral da Civilização Brasileira, com os volumes dirigidos por Sérgio Buarque e Boris Fausto, é uma boa iniciativa. Vários historiadores, com significativas análises sobre os processos de construção da sociedade, usam fontes renovadoras e estimulam a pesquisa em áreas pouco comuns. É importante lembrar obras mais recentes, como as de Nicolau Sevcenko sobre a questão da cidade.
Em sua biblioteca, tirando suas próprias obras, qual autor(a) está mais presente?
Tenho bons romances: Mia Couto, Kundera, Gabriel Garcia, Paul Auster, muitas obras de literatura. Também, procuro diversificar. Não deixo de ter livros sobre psicanálise e filosofia. É fundamental que a formação do escritor não seja linear e que haja ousadia na escrita e não se retome conservadorismos apáticos. Procuro entrelaçar a História com a Filosofia, a Psicanálise e a Literatura. Conhecer Freud, Nietzsche, Marcuse inquieta a obra do historiador e valoriza suas reflexões. Portanto, a multiplicidade de significados compreende a complexidade de cada desejo e de cada tempo. A escrita nunca deve se mostrar pálida.
Qual foi o último livro que você leu e que lhe marcou?
Como estou lendo sempre, considero uma biografia escrita sobre Susan Sontag como importante e uma lição de vida. Escrita por Benjamin Moser, salienta as contradições do seu tempo e o desejo de Susan de romper com as tradições. Possui uma escrita com divagações contemporâneas e os debates atuais.
Qual o seu livro preferido fora da área de História?
Cem anos de Solidão, de Gabriel Garcia, é uma obra mítica e épica, com uma escrita bela e surpreendente. Indispensável para quem queira se destacar na literatura, afirmando suas diversas formas e imagens. Leitura obrigatória para quem destaca a estética na obra do historiador. A estrada da vida não é reta, o historiador não é um senhor da verdade. O acaso contamina a cada instante.
Qual tema você pretende abordar no seu próximo livro?
Temas ligados ao cotidiano, procurando destacar os acasos da história. Estou com um livro sendo analisado pela editora da UFPE. É preciso dialogar com o presente e não se assustar com os conflitos tecnológicos. O historiador não deve ficar nas amarguras do passado, tampouco esquecer os espaços da imaginação.
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