Ditadura militar no imaginário amazônico
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Ditadura militar no imaginário amazônico

Atualizado: 29 de abr. de 2021

 

Dissertação: Regime ditatorial militar no Amapá: resistência, terror e subordinação – 1964/1974


Autor: Dorival da Costa dos Santos (Lattes | Dissertação)


Orientador: Ítalo Tronca

Instituição: Universidade Estadual de Campinas, 2001

1. Qual a questão central da sua pesquisa?

Estudo da atuação da ditadura civil-militar brasileira no âmbito de sociedades antropologicamente denominadas “tradicionais” no contexto amazônico.

2. Resumo da pesquisa

O objetivo da pesquisa foi demonstrar as especificidades históricas do regime ditatorial militar no Amapá, no período de 1964 a 1974. Dentro dos padrões nacionais do regime, no Amapá a ditadura militar apresentou visíveis peculiaridades que podem ser identificadas em pelos menos quatro dimensões:

1 – Uma subordinação radical da elite política amapaense ao centro definidor do poder nacional, chegando a um extremo e caricatural servilismo, identificado pela absoluta falta de influência nos bastidores políticos do regime.

2 – A despeito de não desprezar os instrumentos padrões do terror de Estado vigente no período, no Amapá a ditadura aproveitou-se do imaginário fantástico dominante para criar formas de admoestações adequadas a essa cultura.

3 – Ainda que o medo das torturas, perseguições e prisões fosse algo presente nas pessoas, no Amapá configurou-se ele, sobretudo, através de uma visão mágica do opositor ao regime visto como um ser irreal e fantástico capaz de terríveis proezas super-humanas.

4 – Por fim, a insignificância demográfica e a cultura tradicional e comunitária, que tinham as relações presenciais e de vizinhança como elemento estrutural, impediu o anonimato e, por consequência, a resistência ao poder ditatorial nos moldes da que ocorreu nas grandes metrópoles, baseada em princípios racionalistas, efetivada em organizações partidárias, tendo como modo de ação principal a luta armada. A resistência no Amapá, ainda que tenha tido seus claros momentos de enfrentamento e de organização, foi, fundamentalmente, uma resistência simbólica, molecular e às escondidas, disfarçada de arte, vandalismo, silêncio, recusas e afirmações nem sempre conscientes, mas indicativas de não conformidade, de uma luta de indivíduos e grupos para sobreviverem livres e autônomos em uma condição opressiva e castradora.

3. Quais foram suas principais conclusões?

O regime ditatorial militar no Amapá, no período investigado, evidentemente esteve enquadrado em parâmetros axiológicos e ideológicos da ditadura no Brasil, contudo, apresentou peculiaridades bastante significativas. A mais importante destas especificidades refere-se à reelaboração que as atitudes, as ações e as normas ditatoriais, preconizadas pelo centro definidor do poder nacional, sofriam no Amapá em razão de uma cultura e uma mentalidade preponderantemente tradicional, comunitária e mitológica, em outros termos, pré-moderna.

Assim, em vez de um delegado Fleury, da ciência a serviço da tortura, o Amapá teve o “engasgador”, a “loura do bombom envenenado”, o imaginário mitológico a serviço do terror. Em vez de células clandestinas e organizadas, onde as relações de afeto eram extremamente controladas, quando não proibidas, no Amapá os “clãs” de jovens, que como o próprio nome indica, privilegiava a irmandade e o afeto. Em vez de assaltos a bancos e sequestro de embaixadores, a quebra de lâmpadas na pista do aeroporto e ovos podres nos carros de professores autoritários. Em vez de armas, o rádio para, sofrivelmente, ouvir as cantilenas do socialismo cubano. No Amapá, em razão da contestação ao regime, não se conheceu nenhum assassinato, apenas dois amapaenses exilaram-se, no entanto, inúmeros deles foram demitidos de seus trabalhos, aposentados compulsoriamente, censurados, perseguidos, presos e torturados.

No Amapá, em razão da contestação ao regime, não se conheceu nenhum assassinato, apenas dois amapaenses exilaram-se, no entanto, inúmeros deles foram demitidos de seus trabalhos, aposentados compulsoriamente, censurados, perseguidos, presos e torturados.

4. Referências

Alexandre Amaral et alii. Do lado de cá: fragmentos de história do Amapá. Belém/PA: Editora Açaí, 2011.

Augusto Oliveira e Randolfe Rodrigues (Org.). Amazônia, Amapá: escritos de história. Belém/PA: Editora Paka-Tatu, 2009.

Osvaldino Rayol. A Utopia da terra na fron­teira da Amazônia. Macapá: Editora Gráfica “O Dia” Ltda, 1992.

Fernando Rodrigues Santos. História do Amapá: da autonomia territorial ao fim do Janarismo (1943-1970). Macapá: Editora Gráfica “O Dia” S/A, 1998.

Dorival da Costa dos Santos é licenciado em História e bacharel em Direito pela Universidade Federal do Pará (1990), especializado em Metodologia do Ensino Superior pela Universidade Federal do Pará (1992), mestre em História Social pela Universidade Estadual de Campinas (2001) e Doutor em Sociologia e Direito pela Universidade Federal Fluminense (2015). É professor Associado do Colegiado de História da Universidade Federal do Amapá, desde 1994. Foi membro da Comissão de Direitos Humanos – Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional do Amapá e presidiu a Comissão da Verdade “Francisco das Chagas Bezerra, Chaguinha” do Estado do Amapá.

Caso queira divulgar sua pesquisa sobre temas relacionados às ditaduras latino-americanas do século XX ou sobre questões do Brasil contemporâneo, não necessariamente na área de História, escreva para o email: hd@historiadaditadura.com.br

 

Soldado na Conferência dos Exércitos em setembro de 1968. Arquivo Nacional, Correio da Manhã, PH FOT 04082.010.

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