Diego Gambier
Dia de São João - um filme, um livro, uma música
Hoje, dia 24 de junho, é o dia de São João Batista, um dos santos mais populares e festeiros do país. As tradicionalíssimas festas juninas são aguardadas ansiosamente em diversas cidades do país. Ainda que sua tradição esteja vinculada à cultura nordestina, a festa há muitas décadas integra parte essencial da cultura nacional e, em maior ou menor proporção, está presente em todos os cantos do Brasil. Como forma de produção de sociabilidades e de cultura, o povo brasileiro produziu grandes festas que se tornaram parte da cultura popular. Boa parte delas advém do encontro com a fé e suas crenças. É assim, na mistura de fé com celebração, que o povo brasileiro realiza as festas juninas.
Filme:
“Com Chita e Paetê se faz História” de Domingos Júnior (2021)
O documentário “Com chita e paetê se faz história” conta a trajetória da Rosa Linda Linda Rosa, considerada a mais antiga quadrilha junina de Pernambuco. O filme aborda a vivência da quadrilha que preserva seus encontros no mês junino desde 1976. No documentário, narrado por meio das entrevistas, se observa a importância da quadrilha para a construção de laços sociais entre a comunidade e entre os próprios membros da família. Uma discussão importante – que Domingos traz em forma de crítica – é a respeito do distanciamento dos jovens das quadrilhas, o que tem resultado em seu enfraquecimento, mas também apresenta novas formas de trazer o jovem de volta para a festa. O documentário está disponível no YouTube.
Livro:
“Santos de Casa – Fé, crenças e festas de cada dia” de Luiz Antônio Simas (2022)
Em um de seus mais recentes livros, o historiador Luiz Antônio Simas traz a fé e as festas para refletir sobre a cultura popular brasileira. A relação entre festas e religiosidade, tema central do livro, perpassa a tradição católica portuguesa, por meio da veneração de santos canônicos, e se cruza no país com os santos populares e as influências espirituais das religiosidades indígenas e africanas. No livro, Simas busca compreender como o povo humanizou os santos por meio de invenções cotidianas da vida. Para isso, conta histórias de diversos santos cultuados no país, dentre eles São João Batista, o santo que é que celebrado nas festas juninas.
Música:
“Festa no interior” de Abel Silva e Moraes Moreira (1980)
Moraes Moreira, nascido na Bahia, é um dos mais conhecidos músicos da MPB, e suas canções estão presentes em todos os repertórios de festas juninas. Abel Silva, menos conhecido, é um compositor que já trabalhou com grandes nomes da música brasileira e, recentemente, contou a história de uma das letras mais populares da tradição junina que está diretamente ligada ao contexto da ditadura militar brasileira. Abel Silva resolveu escapar dos órgãos de censura falando da violência da ditadura de uma forma completamente diferente. O compositor contou em entrevistas que escreveu a música no início da década de 1980, quando ocorria uma série de atentados com bombas organizados por grupos de extrema direita contrários ao processo de abertura política. Para abordar o tema, optou por falar sobre a “festa no interior”, a festa de São João. A letra torna evidente que a luta e a resistência também podem habitar as festas, como fica explícito no seguinte trecho: “nas trincheiras da alegria o que explodia era o amor!”.
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